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  • Foto do escritorHenrique Pagnoncelli

Sombra e Luz


Prof. Henrique Pagnoncelli

Parapsicólogo clínico

Blumenau/SC



“Uma pessoa não é iluminada por imaginar figuras de luz, mas por estar ciente da escuridão.”

Carl Jung



Vamos falar do arquétipo da Sombra. Jung, psiquiatra suíço e criador da Psicologia Analítica, refere-se à sombra como o lado sombrio da nossa personalidade, ao qual nos negamos a olhar. Para isso, nos escondemos atrás de máscaras. Máscara nos remete a outro arquétipo junguiano: Persona. No antigo teatro grego e romano, passou-se a usar a persona, ou seja, uma máscara como forma de proteger o ator ou a atriz, principalmente se estivesse representando um papel como vilão ou vilã. Acontecia que, ao sair do palco, os atores eram hostilizados e muitas vezes agredidos nas ruas da cidade. No palco, com a persona no rosto, não eram reconhecidos. Portanto, a origem da palavra personalidade vem dali. Usamos personas, vale reforçar, máscaras, para esconder nossas sombras, nosso lado sombrio, qual seja: medos, instintos primitivos, raiva, inveja... Portanto, nossas personalidades nos impedem de ver nossa essência.


Por exemplo, quando você está caminhando por aí, indo ao seu trabalho, mesmo trabalhando, você não se vê, não se enxerga. Porém, os outros o veem. Da mesma forma, você vê os outros andando, se movimentando no seu dia a dia. Como você não se vê, por analogia, não vê o que o incomoda. Pode até sentir. São as sombras se movimentando e movendo você. Como vê os outros, você vê o que está neles — qualidades e defeitos, luz e sombra — e que também é seu. Pode-se ver a sombra porque é projetada. Vale dizer, as qualidades também. Nas relações interpessoais, damo-nos a conhecer e conhecemos as outras pessoas pela nossa percepção extrassensorial. Carregamos todas as nossas informações no nosso campo áurico. Na realidade, tais informações são de nossa ancestralidade, às quais inconscientemente somos leais — e nos apropriamos disso, assumindo-as como verdades, como algo normal e nosso. Tomar consciência disso é libertador.


O outro pode ver aspectos em você que você não vê. Você pode ver aspectos na outra pessoa que ela não vê. É importante escutar o que as pessoas nos falam e nos fazem. Elas estão vendo coisas que você não está vendo. “Eu não a vi, quer dizer, eu não vejo a mim.” Vejo minha luz e não vejo minha sombra, porque não quero vê-la. O encontro com os outros revela coisas que nós não sabemos. Eles podem me revelar coisas que desconheço de mim mesmo. O oculto é revelado. Ninguém sai o mesmo de um encontro. Efeito espelho, temos luz e sombra. Como me sinto no encontro, algo se movimenta dentro de mim. É necessário atentar-se para isso! Discernir o que é meu e o que é dos outros o mais honestamente possível.


Criamos expectativas inúmeras em relação aos outros, e esperamos que as pessoas atendam a tais expectativas que, por sinal, elas desconhecem. Achamos que elas deveriam adivinhar nossos pensamentos e nossas intenções. Uma vez que desconhecem o que esperamos, não somos atendidos. Então vem a famosa frase: “Você me decepcionou, eu nunca imaginei que você fosse fazer isso”. Vejamos um detalhe nessa frase: “eu nunca imaginei”. Eu imagino um mundo ideal para mim e conto com a outra pessoa, como se ela tivesse a obrigação de dar-se conta, de adivinhar o que estou esperando dela. Porque eu a imaginei perfeita. Ela sempre foi assim e eu não olhei para isso, impedido por imaginar algo que não existe, além de minhas fantasias. Dessa forma, parte-se para o julgamento e os conflitos surgem, tornando-se infindáveis.


Por outra parte, muitas pessoas tendem a atender expectativas dos outros, que a princípio as desconhecem. Também aqui tem início uma fantasia: “Eu acho que fazendo isso ou falando aquilo a pessoa vai gostar de mim”. É um exercício de “adivinhação”, inútil e desgastante. A necessidade de agradar para ser aceito, para pertencer. Dessa maneira, eu afirmo: nós nos decepcionamos com nossas expectativas e não com as pessoas. Porém, nesse emaranhado de desinformações, culpamos os outros, entrando num caminho de vitimização e de solidão, o que desemboca em dramatizações, tornando tudo mais difícil.


Para tanto, faz-se necessário buscar causas e não culpados. Buscar as origens dessas sombras nas quais nos refugiamos para nos esconder. Daí o encontro com os outros: podemos nos conhecer mais, pois eles nos revelam a nós mesmos. Paradoxalmente, eles nos dão a oportunidade de conhecer-nos a nós mesmos. A cada encontro, podemos saber mais de nós, informações captadas pelas pessoas e nos devolvidas. Os elogios são bem-vindos! Entretanto, possíveis observações críticas causam desconforto. Humildemente, precisamos olhar para isso. Antes de tudo, é preciso olhar para qualquer sujeira que esteja aí no chão. Depois ter lhe dado a devida atenção, saberemos que providências devemos tomar. Ou seja, uma pá e uma vassoura; ou, quem sabe, uma retroescavadeira para retirar aquilo. Por analogia, o mesmo ocorre em relação ao que se movimenta, desconfortavelmente, no nosso corpo, no lado subjetivo dos nossos relacionamentos. Precisamos olhar, admitir que aquilo é nosso. Doeu, é meu! Portanto, a partir dali, buscar ferramentas adequadas que nos levem ao autoconhecimento e à construção de caminhos para a saída. Hoje podemos contar com muitas abordagens terapêuticas eficientes que ajudam na superação de tudo isso.


Por meio da terapia, podemos penetrar nas profundezas do inconsciente, onde os arquétipos estão instalados como programas, e ressignificar as sombras. E o arquétipo da sombra é o que merece nossa atenção para viver a cura. A terapia, que é uma forma de cuidar de si, nos dá acesso a isso e à possibilidade de viver plenamente na luz do autoconhecimento. Parafraseando Jung, enquanto você não se tornar consciente, o inconsciente conduzirá sua vida e você vai chamar isso de destino, de sorte ou de azar. Agir com consciência é viver no momento presente, no aqui e no agora.






Por Henrique Pagnoncelli




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