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  • Foto do escritorHenrique Pagnoncelli

O Início e o Fim da Vida: Eros e Thânatos



Prof. Henrique Pagnoncelli

Parapsicólogo clínico

Blumenau/SC


Em 2 de novembro, celebra-se o dia dedicado aos finados, aqueles que findaram a vivência neste plano. Nessa data, oficializada no século XIII, prestam-se homenagens aos entes queridos que voltaram para a Casa do Pai. Portanto, convido você a refletirmos sobre este tema, a morte, como realidade existencial. Falar de morte é falar da vida.

Eros (deus do amor e do desejo, na mitologia grega) é associado ao desejo de criar a vida. É desejo de viver. O começo da vida se dá pela atração e pela relação sexual. Amor romântico, apaixonado. Ainda é tabu falar de sexo e sexualidade. Há muita vergonha. No outro extremo, também há outro tabu: Thânatos (na mitologia grega, personificação da morte). Os dois extremos se tocam: Eros e Thânatos. A morte também é um tabu. E por que falar da morte? Por uma razão muito simples: porque morrer é tão natural quanto nascer. Nascemos, nos desenvolvemos e morremos. Pensar e falar que somos mortais nos torna mais humanos, quiçá, menos apegados, menos gananciosos e menos arrogantes. Vivemos como se não fôssemos morrer. Parece que só os outros vão morrer.

Vida e morte. Começo e fim. É da natureza nascer, viver e morrer.

Então, o que é a morte? O que é morrer? São questões existenciais complexas, profundas e cheias de mistério. Muito se especula sobre o tempo. Uns acreditam, outros não, na vida após a morte. Independente disso, todos findamos. Quanto a mim, parto do princípio que a vida segue.


Morrer é voltar para casa, voltar de onde viemos. Como espíritos vivendo neste corpo, este será abandonado e rumaremos para outra dimensão. A morte não é o fim. É uma passagem para uma outra forma de vida, numa outra dimensão. É voltar à nossa essência. O que muda é o corpo onde o espírito se manifesta. Esse corpo é perecível, cresce e chega ao fim, morre. O corpo que é abandonado não é uma prisão da alma, mas um meio mais denso de expressão da alma. Uma vez que tivemos o momento para nascer, teremos o momento de morrer. Tudo o que aparece, um dia desaparece. Na morte, o ser humano desaparece, acaba. Mas o espírito continua. Morte é o reencontro com nossa ancestralidade. É estar numa outra dimensão, mas estamos em comunhão com os que ainda estão no corpo. Nossas preces, enquanto estamos neste corpo, alcançam nossos entes queridos onde quer que se encontrem. O amor que sentimos uns pelos outros segue depois da morte do corpo físico.

O medo da morte está entre os medos do desconhecido. E por não a conhecer, projetamos sobre ela imagens muito negativas a partir do medo. Portanto, o medo da morte está mais no que se imagina do que no que, de fato, acontece. Esse medo é uma crença que pode ser desconstruída. Criamos o medo e tememos nossa própria criação, esquecendo-nos de viver a vida e nossos propósitos.

Com a realidade da morte, tomamos consciência da impermanência. Esse aspecto simbólico da morte denota que tudo é passageiro. Nossa estada neste mundo também. Chegamos sem nada e partimos sem nada. O apego torna a vida mais pesada. A morte é desapego de coisas, lugares, pessoas e afetos...

Evitamos falar da morte, escondemos a morte e nos escondemos dela. Identificamo-nos com o que morre e não com o permanente, que é alma. Identificados com aquilo que morre (ego, corpo e matéria), ficamos com medo. O ego teme o fim da existência. “Tudo acaba com a morte” é uma ideia, uma crença materialista. Dessa forma, esse pensamento transformou-se em tabu, ocasionando que nada pode ser comentado. O ser humano deseja a imortalidade. Esse desejo é a consciência da nossa alma. O medo está ligado ao corpo, ao ego, à mente que quer controlar tudo. A mente não dá conta do entendimento da morte. Por isso, continua um mistério, um tabu. Para o coração, a morte é algo natural no processo evolutivo.


Pensar na morte, para muitos, dói. Porém, a morte não dói. São Francisco de Assis viveu o amor na sua plenitude. E, no final de sua vida, aos 42 anos, acrescentou um último verso no lindo Cântico das Criaturas, dando as boas-vindas à irmã morte corporal, pois é por meio dela que se encontra com Aquele que sempre se buscou: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal, da qual homem algum pode escapar”.

Morrer é mudar de estado. É ir ao encontro da realidade espiritual, uma vez que, neste corpo, nos distraímos com coisas do ego, da aparência, do status quo. No outro lado da vida, temos oportunidade de fazer uma retrospectiva e perceber quanto da nossa missão cumprimos, quanto da nossa missão não cumprimos por distrações; quanto de evolução tivemos, ou se permanecemos estagnados, enterrando nossos talentos, por medo.

Fomos criados para viver uma vida simples, bela e maravilhosa...

Viver a vida e lembrar de ser feliz. Eu preciso decidir viver. Ao viver bem, ao viver no amor, a morte não será temida, mas vista de forma natural. Quero concluir com os versos de Fernando Sabino, que sintetiza esta ideia:


“De tudo ficaram três coisas...

A certeza de que estamos começando...

A certeza de que é preciso continuar...

A certeza de que podemos ser interrompidos

antes de terminar...

Façamos da interrupção um caminho novo...

Da queda, um passo de dança...

Do medo, uma escada...

Do sonho, uma ponte...

Da procura, um encontro!”





Por Henrique Pagnoncelli




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