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  • Foto do escritorHenrique Pagnoncelli

Ciúme

Atualizado: 19 de ago. de 2020




O ciúme é um sentimento complexo que revela um grau acentuado de inseguranças presentes na pessoa. É o medo de perder, pois o ciumento não confia em si, tem medo do abandono e sente-se inferior. Estas são as principais causas que sustentam o ciúme. Mas o ciúme que atinge um nível mais alto não é prova de amor e, sim, de muita insegurança.


O ciúme se caracteriza pela possessividade, quando uma pessoa passa a ser controlada pela outra de diversas formas como se fosse sua propriedade. Muitas vezes, não há um motivo real, apenas fruto da imaginação mórbida da pessoa, pelo fato de ela ter uma baixa autoestima, incerteza, sensação de traição, desconfiança, raiva, sede de vingança, descontrole. A pessoa ciumenta não confia em si e nem na outra pessoa.


Ciúme e inveja têm relação entre si. São irmãos gêmeos. A inveja é quando desejo algo de alguém. Se não tenho, sofro por isso. O ciúme envolve o medo de perder algo ou alguém. A inveja acontece porque não tenho; o ciúme porque tenho e temo perder. O ciúme é a inveja do amor, que pode dividir e destruir relações. O amor, pelo contrário, une. A pessoa que ama, mesmo não tendo o objeto do amor, quer vê-lo feliz. O ciumento é egoísta. O ciúme está carregado de vaidade e de egoísmo pegajoso. Uma pessoa, vítima do ciúme, me disse dias atrás: O ciúme é um bichinho que vira monstro e depois ninguém mais segura seus passos.


Quanto mais baixa for a autoestima, mais propensa está a pessoa de sofrer com um dos dois sentimentos. O sentimento de inferioridade e de rejeição estão presentes na pessoa que sente ciúme; ela se compara e se sente menos. Acredita que a outra pessoa, ou outras pessoas, são melhores do que ela. Sofre porque não admite, não reconhece, a presença desse sentimento. Ao lutar contra esse sentimento, o fortalece, o desenvolve e se prejudica. Para não olhar para essas inseguranças, desvia o foco para as outras pessoas. Com isso, não olha para as causas da insegurança que está presente. É autoengano. Ao mesmo tempo que somos únicos, nos comparamos aos outros e não suportamos sentirmo-nos menos, inferiores. A inferioridade nos leva à agressividade, à competição e ao autoritarismo. Daí decorrem uma série de consequências: conflitos, separações, perdas, empobrecimento, mortes. Claro que isso não é amor.


Esta realidade do ciúme está presente na Literatura da Língua Portuguesa, nos romances de Machado de Assis, Eça de Queiroz e Graciliano Ramos. Mas um exemplo clássico mundial de obras literárias sobre o ciúme é Otelo, de W. Shakespeare.


Otelo é convencido pelo invejoso Iago, seu falso amigo na trama, de que sua esposa o traía. Cego de ciúmes, ele a mata. No entanto, depois, descobre o seu engano e, então, culpado, se suicida. A insegurança de Otelo fez com que se deixasse levar por intrigas e fofocas que despertou seu intenso ciúme. Essa tragédia demonstra que o ciúme é um fogo que inflama o coração, derrete a razão e abre caminhos para a dor.


Um caminho para se livrar disso é o autoconhecimento. A partir dele, a pessoa que sofre encontrará recursos para superar os medos e as inseguranças que lhe trazem perdas. O medo de perder faz a pessoa perder coisas, pessoas, oportunidades. Quando se trata de relacionamentos (conjugal, amizades), pode perdê-los, não por uma traição, mas pela falta de confiança. Obviamente, as causas estão na pessoa que é portadora do ciúme. É preciso buscar sempre as causas e não culpar alguém, principalmente quando a outra pessoa não dá motivo algum para tanto. Na maioria das vezes, há sempre três pessoas envolvidas numa situação de ciúme: a pessoa que tem ciúme, a pessoa que é alvo (vítima) e uma terceira pessoa que é motivo do ciúme. É um triângulo doloroso.


A pessoa ciumenta pode aprender algo da pessoa que despertou nela ciúme. De certa forma está vendo qualidades nela. É algo que ela admira e pode desenvolver também. Estas qualidades podem estar com ela também. Não julgar ou condenar, mas aprender com isso. Na prática, pelo contrário, se parte para o ataque verbal e muitas vezes físico; a guerra se instala, gerando a destruição de si e da outra pessoa. Que informações posso obter da pessoa que despertou o ciúme em mim? Não julgar ou condenar, mas aprender com isso. Se doeu, é meu. Humildemente e com sabedoria, reconhecer que tem a ver comigo e fazer uma verdadeira transmutação.


Para concluir, alguns versos de Paulo e Tarso: O amor é paciente, é bondoso. O amor não arde em ciúmes, não se envaidece, não guarda rancor. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca acaba (1Cor 13,1-13).

Por Henrique Pagnoncelli

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